24 estrelas

- São 24. 

- Não, são 25. Você não viu?

- Tenho certeza que são 24 estrelas.

- Droga você é uma imbecil mesmo, não sabe nem contar estrelas direito... 

- Nossa! Como se você soubesse! Por que me trouxe aqui?

- Por que precisava te ver... 

- Posso saber por quê? 

- Pra poder ter você por perto um pouco, gosto de você. - silêncio, mãos tremendo, suor frio saindo da testa e descendo pelo pescoço.

- Gosto de você também. 

- Então admita são 25 estrelas no total.

- São 24, tenho certeza. 

- Não seja teimosa. 

- E você não seja arrogante. 

Silêncio para um zilhão de anos passar por perto de nós.

- Então diga que me ama. 

- Eu não te amo. - meus olhos se arregalam e eu engulo em seco. Estou tendo uma leve crise de pânico.

- Cara, preciso ir embora. - informo, me levantando e dando um fim naquela conversa estranha.

- Você não vai sem me dar um beijo. - eu reviro os olhos.

- Não nem pensar, te falei que isso ia acabar. 

- Mas já se passaram quatro anos... 

- E daí?

- Não quero mais saber de você. 

- Essa semana eu te liguei 340 vezes no celular. Por que você não atendeu? 

- Estava trabalhando. 

- Mentira! Estava com seus amigos. 

- Você não sabe o que é isso, né? Acha que tenho 17 anos? Não tenho mais. 

- Eu vou embora. 

- Não vai não. 

- Por quê? 

- Por que preciso ir pra um lugar onde esse seu perfume não esteja. 

- Droga, você me deixa confusa... 

- Por que? Não sei, simplesmente deixa. Eu fico assim desse jeito totalmente elétrica parece que tomei 6 garrafas de energético sozinha. 

- Mas não tomou? 

- Tomei, mas tomei com vodka, você não viu?

- Escuta, qual seu problema?

- Onde você trabalha agora? 

Silêncio. Ele levanta os braços, como se ponderasse a próxima pergunta. Mas. Que. Droga.

- Não vai me falar? 

- Não, eu não vou te falar. Você me persegue sempre que sabe onde eu trabalho, dai tenho que fugir de você de novo por mais quatro anos... - a revelação deixa o clima mas denso do que antes. Parece que algo na rotação da terra mudou. Como uma bobina quebrada ou um motor sem óleo. Eu me sinto ofegante. Preciso ir.

- Você não sente saudade? - ele pergunta olhando em meus olhos e eu quase posso ouvir o seu coração batendo mais forte, como um doce tambor vindo em minha direção. E, jesus, eu quero fugir.

- Não porque sentiria? - penso melhor na minha perguntaresposta e acrescento: - Do que sentiria? Não somos amigos, já fomos, mas você acabou com tudo, não temos uma historia de amor, afinal você também acabou com tudo.

Ele passa as mãos pelo cabelo, exasperado. Eu quero correr até meu pé dar calo e eu precisar usar meias a semana toda. Preciso correr.

- Então porque veio? - essa pergunta é meio óbvia né?

- Por que você me prometeu Vodka. - eu respondo, solenemente e ele sorri. 

- E eu cumpri. 

- Ahaaa então você também queria algo né? 

- É claro que queria e você sabe. Você me conhece e eu sempre quero alguma coisa. Alguma coisa com você.

Eu solto uma risada rouca porque sei exatamente onde essa conversa vai nos levar: A lugar nenhum.

- Você me atrai. 

- Eu sou uma vassoura usando calças. No que te atraiu? 

- Eu não sei... No jeito, no cheiro, na sua tatuagem. - eu franzo a testa e chego mais perto. Que porra?

- Que tatuagem? Eu não tenho tatuagem!!! 

- Claro que você tem uma na bunda. - ele escorrega nas palavras. A bebida e as drogas deixam ele assim, ou só está nervoso com a conversa mesmo.

- Olha você esta me confundido com alguma outra pessoa, sei la.

- Vou embora. - finalmente pego minha bolsa e assumo uma postura rígida. É hora de ir.

- Você tá com ciúmes? 

- É claro que não, por que estaria? 

- Por que eu lembro de uma tatuagem de outra garota. - esse cara só pode ser algum tipo de psicótico. Eu mexo nos cabelos, preciso ir.

- Não importa com quem você dorme, entendeu? Nunca importou, nem no começo, nem agora. Estou me lixando pra você. Quando estou com você sempre acontece alguma coisa ruim comigo, então não me procura. Ok? 

Pela primeira vez na noite, ele parece puto e eu olho pro céu. Será que, afinal, são 25 estrelas? Minha cabeça começa a pulsar conforme penso na quantidade exorbitante de vodka que tomei.

- Você é completamente dramática. Nunca vi uma pessoa tão complexa. - eu sorrio. Todo mundo me diz isso, mas pra falar a real: Eu não me importo.

- Mas não é por isso que você me ama?

- Pode ser... - ele quase assume, e meu coração quase transborda. - Mas eu me irrito com isso também. 

- Ok, agora eu que vou embora.

- Não vai! Volta! - eu o puxo pelo braço e ele se vira, irritado

- Vou te beijar. - eu digo, ignorando o passado.

- Vai mesmo? 

- Vou. - eu não sou uma garota comum. Eu gosto do diferente. Então eu quero fazer algo estranho.

- Então beija. 

- Ok calma ai. - ele precisa se preparar, e eu me sinto uma estrela no meio daquelas 24. Ou são 25?

- Pronto. - nossos lábios se encontram e algo me impeli de seguir em frente. 

- E ai como foi? 

- Patético! 

- Também achei. Tchau!

Bianca C. G Araújo

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